Cummins: momento de decisão

Cummins_X13

Fabricante lança motorização X13 que, ao lado do série G de 12 litros, vai aguardar o próximo gap tecnológico para entrar no mercado equipando nova geração de caminhões.  O novo pacote de pós-tratamento U-Module para a linha Heavy Duty (9 a 15 litros) e soluções com motores a gás, Euro VI e conectividade são os destaques da hora

por Roberto Queiroz

Ao celebrar 100 anos de história em 2019 em sua operação mundial, a Cummins reserva papel estratégico para sua subsidiária brasileira. Mais importante do que o showcase preparado para a Fenatran, a informação de que a Cummins Brasil terá em breve o papel de ser um centro mundial para desenvolvimento e produção de motores a combustão surge como algo muito mais relevante.

Trata-se de uma acomodação natural, que confirma o papel do Brasil na nova geografia da indústria. Os mercados da Europa, a partir da Alemanha, já começam a datar no calendário o final da produção de motores a combustão, enquanto a indústria, por lá, corre para acelerar o desenvolvimento de soluções alternativas.

Por aqui, a Cummins aproveita o evento para fortalecer a linha de produtos Heavy Duty (9 a 15 litros) com o lançamento do motor X13 e do novo sistema de pós-tratamento Cummins U Module. Baseado no Cummins X12, lançado só lá fora em 2017, o X13 chega como a mais recente solução da fabricante para aplicações de longa distância. Considerando as mesmas dimensões do X12, a nova motorização traz potência e torque mais elevados – de 480 cv a 560 cv e torque de 2.400 a 2.600 Nm contra 380 cv a 490 cv e 2.000 a 2.300 Nm.

“Inovador no que diz respeito a alta potência e baixo peso (1.260 quilos) para caminhões acima de 45 toneladas, o X13 dá continuidade ao conceito do desenvolvimento independente para os mercados globais da Cummins”, comenta Maurício Rossi, diretor de Vendas da Cummins. Agora, ao lado do motor G, de 12 litros, o X13 aguarda a definição de clientes para que se saiba em que produto irá rodar. No entanto, Adriano Rishi, diretor de Tecnologia, adianta que, entre os dois, o série G tem maiores chances de estrear primeiro no mercado brasileiro.

No caso do U-Module, trata-se de um novo layout baseado no Euro VI Single Module para motores acima de 8.9 litros. O formato em U viabiliza a instalação do sistema de pós-tratamento na lateral do equipamento. A novidade faz uso de materiais tecnologicamente avançados, o que resultou no baixo peso e num produto compacto. Sua manufatura com isolantes térmicos favorece também a alta eficiência térmica e de conversão de gases do sistema, além de vantagens para o usuário final e frotistas, como menor consumo de combustível e Arla 32, com alta eficiência na redução de ruídos.

Opção limpa

A fabricante promete enfatizar sua tecnologia para m otores a gás. “Motores a gás, natural ou renovável, são incrivelmente limpos e eficientes. Com abundância crescente de gás, uma tecnologia já madura e que requer investimentos em infraestrutura mais simples que o da eletrificação, por exemplo, estes motores são uma excelente solução para muitos clientes e mercados, inclusive o Brasil”, comenta Luis Pasquotto, presidente da Cummins Brasil e vice-presidente da Cummins Inc.

No total, estão disponíveis sete plataformas diferentes de motores a gás para ônibus e caminhões, que variam entre 5,9 e 12 litros e potências entre 195 e 400 cavalos. Recentemente, a Scania anunciou uma plataforma de motores a gás na mesma faixa de potência, endossando o acerto da proposta. A fabricante conta com mais de 25 anos de trajetória na fabricação de motores a gás, com mais de 80 mil motores a gás natural atualmente em uso no mundo.

“Já apresentamos um protótipo de um powertrain 100% elétrico e criamos também a Unidade de Negócios Cummins Electrified Power, responsável pela fabricação de sistemas de trem de força totalmente elétricos e híbridos, juntamente com componentes e subsistemas inovadores para atender aos mercados comerciais, à medida que adotam a eletrificação”, diz Pasquotto.

Conectividade

Com forte participação no projeto Rio, que a MAN-LA/VWCO vai apresentar na Fenatran, a Cummins revela uma série de tecnologias desenvolvidas e adaptadas para o mercado brasileiro com foco na redução de consumo de combustível, CO2 e custo de operação das frotas.

Disponível e pronta para entrar em operação no Brasil, a solução digital Cummins Connected Diagnostics™ é um sistema de monitoramento remoto avançado desenvolvido pela companhia que, por meio da telemática, conecta o motor para diagnóstico imediato, com o fornecimento em tempo real de informações valiosas, como de alertas de falhas, além de intervenções preventivas.

O Adept™ é um conjunto de recursos eletrônicos avançados que adapta o motor, de modo dinâmico, às condições momentâneas de funcionamento para operação eficiente do veiculo. O sistema vai instalado no motor e verifica automaticamente as condições de aceleração, monitorando em tempo real a performance da máquina de forma quase imperceptível ao usuário final. Vale acrescentar que o Cummins Adept™ libera todo o potencial da automação de powertrain, para melhorar a eficiência de combustível em até 6%.

Disponível para o segmento de caminhões médios e pesados, o Cummins Repto 600 Nm é um eixo de tomada de força que vai sobre o motor, utilizado em betoneiras ou caminhões de lixo. O equipamento traz carcaça do volante capaz de comportar uma engrenagem independente e permitir com que o torque de 600 Nm seja atingido na ponta da tomada, oferecendo ao usuário capacidade de acoplar sistemas maiores, elevando a vida útil do sistema do veículo. Com uma carcaça de volante maior, a novidade contempla os veículos de ciclo urbano que fazem uso de embreagens maiores.

A Cummins sempre apostou no repotenciamento de veículos para o segmento automotivo e agora volta ao tema, com a oferta do Cummins Repower, que consiste na substituição do motor original do veículo por um Cummins. A Cummins já aplica essa solução em pás-carregadeiras, veículos comerciais e outras aplicações através de seus distribuidores. A modalidade é estimulada desde o início de sua operação no Brasil, quando a marca ainda tinha logotipo azul e não havia população circulante suficiente a partir dos clientes OEM.

Comentário

O novo mapa da indústria automobilística reserva ao Brasil o papel de aterro tecnológico do planeta. A Cummina apenas reage ao que seus estrategistas detectaram, mas está em boa companhia. Marcas como Mercedes-Benz, Volkswagen ou BMW, apenas para dar exemplos e abrir o leque da tendência, já anunciam o encerramento da produção de veículos alimentados por combustíveis fósseis e sua transferência para sites fora do Velho Continente.

Já estão sendo feitos os primeiros anúncios de plantas e empresas se voltando ao Brasil, principalmente no setor de componentes, mas a questão-chave vai além. As condições da economia e da maturidade do mercado mostram que faz sentido, economicamente falando, atender às demandas de quem precisará se valer dessa tecnologia ainda por um bom tempo, até porque não seria possível substituir a frota circulante do planeta de uma só vez.

Mas esse processo exigiria um controle estratégico preciso. O Brasil, com sua atual política de abertura total de pernas é candidato natural a receber uma tecnologia que, muito em breve, será tratada como sucata industrial no chamado Primeiro Mundo. E a tendência é que seja devidamente atropelado, com a indústria tomando decisões antes que surja qualquer tipo de política industrial no país.

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