Por que a Mercedes-Benz está dispensando 3.600 trabalhadores no Brasil?

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Assista ao vídeo abaixo, em que vamos dissertar sobre um assunto bastante sério e delicado, que é a dispensa de 3.600 trabalhadores da fabrica da Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo. Naturalmente, esse é um número que choca a todos e por isso, vamos buscar entender o que levou a montadora a tomar uma decisão tão drástica como esta, que afeta a vida de milhares de famílias.

Primeiramente, precisamos esclarecer que destes 3.600 trabalhadores do complexo industrial de São Bernardo do Campo, 2.200 se referem a postos efetivos, que serão dispensados de acordo com cronograma específico, enquanto as demais 1.400 pessoas possuem contratos temporários e que não serão renovados a partir de dezembro de 2022.

Atuando no Brasil desde 1956, a Mercedes-Benz do Brasil executa o seu atual ciclo de investimentos, da ordem de R$ 2,4 bilhões, no período entre 2018 a 2022. Em 2023, um novo ciclo de investimentos passará a valer.

É importante falar disso, porque a gente vai começar a entender o que se passa. A montadora modernizou as suas fábricas de caminhões e ônibus, tendo sido a primeira a investir na indústria 4.0. Para quem já teve a oportunidade de visitar ou acompanhar através de nossos vídeos e reportagens, há uma robotização muito forte nos processos de montagem. Muitos postos de trabalho foram substituídos por máquinas capazes de executar os mesmos serviços com mais rapidez e segurança, otimizando todo o processo de montagem de um veículo.

Talvez, não fosse pela pandemia, tais dispensas tivessem começado há mais tempo. Dito isto, podemos prever que outras fábricas de outras marcas, que também investiram na modernização de seus processos, através da chamada indústria 4.0, devem seguir o mesmo caminho de demissões em massas nos próximos meses ou anos.

Outro fator importante a se considerar se refere a eletrificação do transporte. A Mercedes-Benz investiu no desenvolvimento do chassi elétrico de ônibus eO500U, bem como sabemos que outros modelos serão eletrificados nos próximos anos. Como vocês bem sabe, afinal já dissertamos sobre este assunto muitas vezes neste canal, a barreira de entrada para um veículo elétrico é muito mais simples do que um modelo térmico. Um veículo elétrico possui muito menos peças e componentes do que um equivalente a diesel, o que acaba, naturalmente, demandando a participação de menos pessoas nos processos de fabricação. Novamente, podemos prever um movimento de encolhimento das equipes de toda a indústria automotiva diante da eletromobilidade ao longo dos próximos anos.

O que poderia compensar, obviamente, é o ganho de escala. Afinal, num país com mais de 200 milhões de habitantes, toda a indústria do setor deveria ser capaz de produzir e comercializar muito mais do que dois milhões e tanto de automóveis e do que cento e tantos mil caminhões e ônibus. Mas, essa é uma conversa para outro momento.

Somado a esses fatores, temos observado sucessivos aumentos nos preços de veículo ao longo dos últimos anos. Tais reajustes são motivados pelas constantes evoluções nos preços das commodities, pela insuficiência de parte da cadeia de suprimentos em atender as demandas de crescimento de mercado no ritmo em que estão acontecendo, entre outros motivos atrelados a atividade economia no Brasil e internacionalmente.

Diante de tudo isso, a Mercedes-Benz do Brasil, coloca em prática o chamado “Plano de Transformação”, em que se propõe “concentrar naquilo que é realmente necessário e demandado pelo mercado”, de acordo com uma nota emitida pela empresa.

De acordo com o “Plano de Transformação”, a Mercedes-Benz deixará de produzir internamente alguns componentes, bem como deixa de exercer atividades que podem ser realizadas por outras empresas parceiras, tais como: logística, manutenção, fabricação e montagem de eixos dianteiro e transmissão média, ferramentaria e laboratórios, até então realizadas na fábrica de São Bernardo do Campo (SP) e que passarão a ser exercidas por empresas contratadas – de preferência na região de São Paulo e do ABC, que podem absorver parte dos trabalhadores demitidos.

Atualmente, a Mercedes-Benz do Brasil confirma que está em negociações com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que também tentamos ouvir, mas que até o momento da gravação deste vídeo não conseguimos. Assim que tivermos mais informações de fato relevantes, voltaremos a repercutir o assunto.

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