Anderson Dantas, da Ecotraining, coloca em dúvida tendência que sempre favoreceria a caixa de 12 contra a de 16 marchas
por Roberto Queiroz
Especialista em treinamentos de condução econômica e de segurança, Anderson Dantas, instrutor técnico operacional da Ecotraining, ex-Sesc/Senat, propõe um desafio que pode contrariar a tendência, presente nos recentes lançamentos de cavalos mecânicos, que chegam propondo preferencialmente as configurações com transmissão de 12 marchas, reservando a opção de 16 velocidades para situações especiais.
Em suas argumentações operacionais, o profissional toma como referência o caminhão Iveco Stralis 400 Eurotronic, ano 2012, com o qual trabalhou durante dois anos no Sest Senat. “Para provar a supremacia da caixa de 16, estou comparando com o Axor 2041, um caminhão bem aceito no mercado e concorrente direto do Iveco na faixa de potência”, conta.
Relações das marchas das duas transmissões
MB G-281/12 | ZF 16AS 2630TO | |
1ª) | 14,93:1 | 14,12:1 |
2ª) | 11,63:1 | 11,68:1 |
3ª) | 9,02:1 | 9,54:1 |
4ª) | 7,03:1 | 7,89:1 |
5ª) | 5,64:1 | 6,52:1 |
6ª) | 4,40:1 | 5,39:1 |
7ª) | 3,39:1 | 4,57:1 |
8ª) | 2,64:1 | 3,78:1 |
9ª) | 2,05:1 | 3,09:1 |
10ª) | 1,54:1 | 2,56:1 |
11ª) | 1,28:1 | 2,09:1 |
12ª) | 1,00:1 | 1,73:1 |
13ª) | 1,43:1 | |
14ª) | 1,18:1 | |
15ª) | 1,00:1 | |
16ª) | 0,83:1 |

“No caminhão escola no qual eu trabalhei”, conta Dantas, “a relação de redução do eixo traseiro era de 3,40:1, enquanto o Axor utilizava redução de 2,85:1. Todavia, por ter uma transmissão Overdrive, temos que multiplicar 0,83 x 3,40. Então, temos uma RFT (relação final de transmissão) em última marcha de 2,82:1 no Iveco, que o torna 1,06% mais longo em última marcha, quando o motor trabalha em menores regimes de rotações, otimizando o consumo.”
A RFT do Axor, em primeira marcha, é de 42,55:1 (14,93 x 2,85). No Iveco é de 48,008 (14,12 x 3,40), 12,8% mais reduzido, o que significa melhor capacidade de partida em rampa com o veículo carregado, com menor desgaste do sistema de embreagem.
Outro aspecto a ser observado, pelo raciocínio do instrutor, é que o fato de ter 16 marchas não significa que o operador terá de utilizar, mesmo desnecessariamente, todas elas. “Muito pelo contrário, isso quer dizer que você tem à sua disposição “16 alternativas” de manter o motor nos seus regimes ideais de rotações”, diz.
O intervalo entre as relações na caixa de 16 velocidades é de 18%, e na de 12 é de 28%. “Intervalos menores oferecem mais possibilidades operacionais, no que diz respeito às questões relacionadas à topografia e carga, isto é, tenho mais chance de estar com a marcha correta nas mais variadas nuances de operação, permitindo explorar melhor a curva de desempenho do motor, com mais economia”. Um bom exemplo disso é que, partindo em rampa com o veículo carregado, o motorista consegue manter as trocas sempre dentro dos melhores regimes, explica Dantas.
O freio motor do Cursor 13 é superior, pois rende 415 CV de potência de frenagem, enquanto o do Axor rende em torno de 360 CV de potência de frenagem. Utilizar essa vantagem na estrada é fator preponderante para atingir esse bom resultado, principalmente na descida.
Apesar do menor torque, 194 mkgf contra 204 mkgf do MB, o Iveco entrega sua “força” em um regime de curva plana entre 1.000 e 1.400 rpm, o que lhe confere melhor performance numa gama maior de rotações. O sistema de curva plana é sempre mais eficiente que o pico de torque máximo.
O instrutor também aborda questões de economia. “Muitos analisam pela curva de consumo específico, mas esquecem que esses valores são com o motor à plena carga, mas em uma operação tenho um universo de condições de cargas parciais. É aí que está a cereja do bolo operacional, pois essa caixa de 16 propicia as condições para podermos tirar melhores proveitos do motor em cargas parciais, onde a administração do torque, juntamente com as rotações ideais, faz toda a diferença.”
Ele sustenta que tem propriedade para provar essa tese, pois vivenciou isso na prática. “Quando entrei no Sest/Senat, analisei as planilhas de consumo e vi que os melhores resultados eram 2,8 km/l. Como já conhecia a má reputação do Iveco em relação ao consumo, não dei muita importância, em um primeiro momento”, relembra.
A comprovação técnica de sua tese veio logo. O percurso de teste era curto, da sede do Sest Senat, na Vila Jaguara, até o km 25 da Anhanguera, para evitar o custo do pedágio. Às vezes, o trânsito mais pesado influía um pouco no desempenho final, principalmente no trecho da marginal Tietê.
“Em minha primeira volta monitorada, respeitando as características técnicas do produto, meu primeiro aluno alcançou a marca de 3,6 km/l! Fiquei surpreso e constatei que provavelmente o caminhão não tinha sido utilizado da forma correta. Para encurtar o assunto, um dos meus alunos conseguiu a marca de 4,5 km/l, derrubando de uma vez por todas o mito de beberrão do Iveco”, afirma, acrescentando que, na operação de uma grande transportadora, o 2041 vazio fazia 3.8/3.9.
“Para finalizar, tenho saudades do Branca de Neve (apelido do meu companheiro 400 Eurotronic), um bom caminhão para sua proposta. Outra grande vantagem é sua visibilidade, com excelentes retrovisores e bem posicionados”, comenta Anderson Dantas.