A história dos Lowriders: Cultura e Origem

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Lowriders são carros que expressam identidades sociais, culturais e estéticas. Para muitos, se trata de um estilo de vida. Você pode adorar ou detestar, mas ninguém fica indiferente na frente de um carro que pula. Por isso, vamos conhecer a história dos Lowriders, também chamados de “Dave’s Dream”.

A cultura Lowrider surgiu nas periferias dos Estados Unidos, na divisa com o México, em meados do século XX, apresentando automóveis com o sistema de suspensão modificado para ficarem os mais rebaixados possível. Atualmente, se usa mais a suspensão hidráulica embora os mais saudosistas prefiram apenas remover as molas da suspensão.

De acordo com o pesquisador Kevin Strait, do Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana, na década de 1990, os lowriders surgiram como adereços móveis, e às vezes protagonizando videoclipes de artistas de hip hop da Costa Oeste. Para Emil Her Many Horses, que trabalha no Museu Nacional do Índio Americano, a associação do lowrider com desfilar e ser visto reflete o papel dos automóveis em eventos como o Crow Fair and Rodeo/ Feira do Corvo e Rodeio, onde carros personalizados começaram a substituir os cavalos na rota do desfile.

Nesses ensaios, Roger White, do Museu Nacional de História Americana, descreve como um carro chamado “Dave’s Dream”, enquanto outros preferem o termo lowrider. A sua personalização pode ser tão bem feita e impactante, que chega a ser chamada de obra-prima automotiva, sendo reconhecida como uma legítima manifestação cultural nas comunidades mexicano-americanas.

“Lowrider” é o nome usado para carros transformados em expressões culturais e para os aficionados que os fabricam e os dirigem. Historicamente, os lowriders eram principalmente homens latinos do Texas, do sudoeste e do sul da Califórnia. Desde a década de 1950, clubes de automóveis e seus membros convertem carros mais antigos para diversos eventos.

As personalizações acabam seguindo um padrão bastante interessante, com uma pintura em cores vibrantes, padrões geométricos, símbolos religiosos ou temáticos culturais e estofamento em veludo. Ao contrário dos incríveis hot rods e outros carros de corrida, os lowriders foram projetados para desfilar lentamente. Cada carro é rebaixado a centímetros do pavimento e conduzido como uma obra de arte sobre rodas.

Quer conhecer a origem do nome Dave’s Dream, que significa o Sonho de Dave? David Jaramillo começou a converter um Ford LTD 1969 no final dos anos 1970. Seu lowrider, conhecido como “Dave’s Dream”, tornou-se um dos favorito da comunidade nas cidades ao norte de Santa Fé, Novo México, onde ganhou muitos troféus. Tragicamente, David morreu num acidente automobilístico em outro carro. Em 1990, curadores do Museu Nacional Smithsonian de História Americana visitaram Chimayó, Novo México, para adquirir o Sonho de Dave. Entre 1990 e 1992, amigos, familiares e sócios do clube terminaram o trabalho de conversão que David havia iniciado. Eles também instalaram o mecanismo de salto hidráulico para dar ainda mais vida ao clássico automóvel.

Do ponto de vista de um curador de transporte, Dave’s Dream exemplifica as impressionantes dimensões sociais e multiculturais dos carros. Os lowriders não são apenas meios de transporte ou recreação, mas expressam quem são os donos e como gostariam de ser percebidos. Eles vestem seus carros como você veste a sua roupa predileta.

Mesmo que nunca tenham visto um pessoalmente, a maioria dos fãs de hip hop da costa oeste está familiarizada com a aparência distinta dos lowriders e os aspectos de sua cultura, sendo um orgulho regional. Embora os lowriders tenham sido criados em bairros do sudoeste e sul da Califórnia como símbolos únicos de criatividade personalizada e identidade cultural latina, os entusiastas de carros afro-americanos começaram a desenvolver seus próprios lowriders.

No início dos anos 1990, Los Angeles era o centro da música e da cultura hip hop. Os holofotes da imprensa e do entretenimento estavam sobre a cidade. Os distúrbios sociais ganhavam destaque no noticiário, a MTV ditava tendências culturais em música, comportamento e moda, bem como o megassucesso da sétima arte intitulado Os Donos da Rua (Boyz-n-the-Hood), do cineasta John Singleton, transformaram L.A. na cena mais pujante do hip hop.

Os Carros lowrider com seus chassis rebaixados e carrocerias de gerações passadas deram um cenário visual dinâmico para a exibição da estética “gangsta” incorporada na cultura hip hop da costa oeste. Artistas como Dr. Dre, Eazy-E, William De Vaughn, Jackie Brenston, War, Cypress Hill e Snoop Dog deram ampla visibilidade aos lowriders com músicas e videoclipes que exaltavam estes veículos e o estilo de vida dentro da cultura black, que além do Hip Hop permeava pelo Funk, a Soul Music e o Rock’n’Roll.

Portanto, os lowriders foram mais do que apenas acessórios nos clipes que a MTV veiculava diariamente em sua programação, eles forneceram uma ferramenta para os rappers darem voz aos seus valores e comunidade.

Até agora, falamos da cultura lowrider predominantemente na comunidade afro-americana. Mas, como vocês sabem, eles possuem forte apelo entre os latinos, uma vez que a cultura lowrider se originou com militares americanos que retornaram da Segunda Guerra Mundial, que transformaram um modo de locomoção em estilo de vida. Como sabemos, o carro lowrider tem origem no leste e sul de Los Angeles, quando homens latinos que se juntaram às forças armadas voltaram com novas habilidades. Era uma época de poucos e maus empregos para mexicanos e menos carros. Muitos veteranos de guerra abriram garagens para acomodar o fluxo de carros antigos para reparos e trabalhos personalizados.

Os primeiros carros lowrider eram, frequentemente, cupês Ford e Chevrolet pré-guerra porque eram baratos para comprar. No final da década de 1950, o Mercury 1949, popularizado por James Dean em “Rebelde Sem Causa”, era o lowrider preferido. Outros incluíam o Oldsmobile Rocket 88 e os cupês Plymouth e Chevrolet do pós-guerra.

O lowrider é um carro rebaixado, especialmente, na parte traseira, que praticamente anda se arrastando no chão. Para um lowrider, era tudo uma questão de aparência e cruzar as avenidas locais. O carro lowrider era uma extensão do senso de moda do mexicano-americano. Primeiro ternos Zoot, e depois calças cáqui largas, camiseta branca, correntes e bandana formavam o visual lowrider. O lowrider era uma expressão de orgulho cultural, se não cívico.

Os irmãos Julio, Fernando, Oscar, Ernesto e Rene Ochoa operavam a Ruelas Custom, uma garagem lowrider no sul de Los Angeles. Em 1962, eles formaram o Dukes So. Cal., um clube lowrider muito famoso que pavimentou o conceito de socialização através da arte, como músicas e danças, bem como a paixão compartilhada pelo carro lowrider e seu estilo de vida.

Os lowriders da primeira geração preferiam os modelos das décadas de 1940 e 1950. As gerações que se seguiram, popularizaram outros clássicos da indústria automobilística, tais como os modelos Chevy Impala de 1964, o Chevy Monte Carlos, Olds Cutlass Supremes e Buick Regals. Frequentemente são equipados com sistemas de sons potentes e sistemas de elevadores hidráulicos para as competições de saltos.

Na década de 1970, o conceito lowrider influenciou outras comunidades étnicas, principalmente com adolescentes que adotaram o lowrider em vários estilos, marcas e modelos para refletir sua própria cultura e imagem. No final da década de 1980, Hondas, Toyotas, Nissans e Acuras lowrider eram tão abundantes quanto o icônico Chevy Impala.

Em 2017, Hollywood fez mais uma tentativa em retratar essa cultura com o filme Lowriders, que buscava mostrar o movimento que se formou em torno de carros clássicos personalizados na comunidade Chicanx. O longa-metragem, dirigido por Ricardo de Montreuil, tenta quebrar alguns estereótipos persistentes sobre a juventude mexicano-americana, preservando aspectos culturais importantes que vão muito além do estereótipo do latino bandido constantemente retratado no cinema estadunidense.

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