Ford joga um século no lixo

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Dois meses antes de completar exatos 100 anos de operação em caminhões no Brasil, a Ford anuncia a sua saída do mercado de caminhões na América do Sul e o encerramento da produção da planta do Taboão, em São Bernardo do Campo, SP

Por Roberto Queiroz

Às vésperas de completar 100 anos de operação em caminhões, a Ford jogou a toalha. Em 1919, em uma fábrica no bairro do Ipiranga, na capital paulista, começava uma história que termina agora, após vários anos agonizando. Não é de hoje que se escutam relatos de que a montadora procurava um parceiro ou, até mesmo, vender a operação. O balanço do ano passado mostrou um prejuízo de US$ 678 milhões na região, considerando automóveis e caminhões no Brasil e América Latina.

Essa intenção foi colocada com clareza no comunicado oficial, em que a empresa admite haver tentado todas as alternativas possíveis. Em resumo, a fábrica de São Bernardo será fechada em 2019, após um período ainda não calculado de phase out, com a possível produção de veículos com a venda já contratada. Uma questão pendente é saber qual a reação dos clientes que estiverem em negociação, pois pode haver um cancelamento maciço de pedidos.

Como é costume em empresas envolvidas em momentos desagradáveis, a Ford tenta justificar o desastre como se fosse uma coisa boa, na chamada saída honrosa, dizendo que a medida é um dos passos para “o retorno à lucratividade sustentável de suas operações na América do Sul. ”

Conforme o comunicado, os custos com essa decisão foram estimados em cerca de US$ 460 milhões. Pode não ser suficiente, se considerarmos as primeiras reações da rede de distribuidores de caminhões, com 100 casas reunidas na Abrafor, sua associação de marca que ganhou vida própria ao se desligar da Abradif, que também reunia distribuidores de automóveis. O apetite para retaliar parece bastante forte, pois sabem que serviram de cacife nas tratativas da montadora.

Em 2017, o mercado comentava com alvoroço de um interesse da montadora DAF, pertencente à Paccar, de absorver a rede Ford. Não deu em nada, da mesma forma como um interesse da Iveco, anos antes, com a mesma finalidade. Até os russos da Kamaz chegaram a uma sondagem sobre a possibilidade de utilizar a fábrica do Taboão para montar caminhões mais pesados, que complementassem a linha Cargo e fossem vendidos na rede.

E o americano Tony da Cunha, presidente da International em sua primeira incursão no Brasil, chegou a se reunir com Flávio Padovan, que comandava a operação Ford Caminhões na época, para discutir uma possível sinergia entre as marcas. Pessoalmente, cheguei a encontrar da Cunha na antessala de Padovan, mexendo em alguns dados dentro desse tema.

 

Funcionários – O fechamento da fábrica da Ford em São Bernardo pode representar a demissão de 2,8 mil trabalhadores. Quem não sair na primeira leva, pode ir se aguentando mais um tempo, nas funções de suporte. Conforme o G1, o presidente do sindicato, Aparecido Inácio da Silva, já apontava a existência de um processo de negociações que sinalizava para o fechamento da fábrica.

A Ford ocupava a quarta posição no mercado de caminhões, com 12% de participação em 2018, atrás de Mercedes-Benz, Volkswagen e Volvo. Devem começar, na concorrência, estudos para avaliar o impacto dessa decisão no mercado, bem como as oportunidades que devem se abrir.

A Ford, como um todo, está um rebuliço. A matriz já anunciou, recentemente, o encerramento próximo da fabricação de automóveis nos Estados Unidos, onde sua produção será concentrada em SUVs e picapes. Quer dizer, rede de distribuidores, fornecedores e, principalmente, clientes, vão perder o rumo no universo Ford.

 

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