Mercedes passa vergonha, mas reage

Fake_News_Mercedes

Demora em reagir acertadamente cria situação constrangedora

Da redação

Alertada por um post do portal Sleeping Giant Br, de que havia publicidade da marca sendo utilizada para financiar sites de fake news, a Mercedes-Benz levou um tempo além de seu padrão de qualidade em comunicação para chegar à decisão correta e determinar que suas mensagens promocionais fossem tiradas do ar.

Mais do que a demora, foi uma primeira decisão, baseada em asserções totalmente erradas, que acabaram criando certo constrangimento. O Sleeping Giants Brasil, perfil que mostra empresas que financiam sites de notícias falsas, apontou que propagandas da Mercedes-Benz apareciam no site “Jornal da Cidade”, conhecido por propagar fake news.

MB_fake_newsNo primeiro momento, a Mercedes-Benz respondeu que “não tem controle sobre em quais canais” seus anúncios seriam reproduzidos, como se não houvesse o que fazer e a companhia não tivesse poder de decisão. Bobagem enorme, pois qualquer veículo de imprensa sabe muito bem o tipo de pressão que se recebe para apresentar dados de desempenho baseados nos mecanismos de aferição de frequência. Uma simples tag impede acidentes nesse sistema de veiculação.

Em uma primeira resposta via Twitter, a empresa respondeu ao interlocutor da Sleeping Giants: “Provavelmente você também verá informações sobre a nossa marca nas suas mídias sociais e em outros canais de notícias, por exemplo. A nossa empresa não tem controle sobre em quais canais o Google vai mostrar determinado anúncio”. Não procede, pois se o Google aplica sua própria metodologia de seleção de onde mostrar essa publicidade, o cliente dono da mensagem pode sempre desativar a mensagem a qualquer momento.

A resposta, atribuída a funcionário não identificado, foi facilmente desmentida. “Alguém pisou na bola e respondeu algo totalmente errado, que está repercutindo,” teria respondido fonte da área de comunicação da companhia. Qualquer empresa pode bloquear sites que compartilham notícias falsas, assim como fazem com os de conteúdo pornográfico.

Uma resposta oficial tenta matar o assunto. “A Mercedes-Benz acionou todas as agências de Marketing e Publicidade que atuam em todas as unidades de negócios da marca para a retirada imediata das informações em sites de mídias programáveis. A marca não apoia este tipo de sites e está tomando as medidas necessárias.”

Esse episódio é mais uma lição para a indústria de que não se pode simplesmente desprezar o valor do conteúdo e a responsabilidade pela veiculação em nome de uma simples contagem de acessos e likes. O papel do jornalista (e de supostos influenciadores digitais) é divulgar e valorizar seu conteúdo, e não de vender diretamente o produto da indústria.

Destacamos ainda que, qualquer grande empresa/indústria que afirma e reafirma em discurso o seu compromisso com o Brasil, assim como medidas de responsabilidade social, deve exercer exatamente este propósito e coibir a prática de Fake News e veículos amadores incapazes de trabalhar uma informação com a devida apuração e qualidade. Cabe, ainda, dentro destes discursos, o apoio incondicional ao trabalho jornalístico sério, sendo a única forma de fortalecer a democracia e transportar informação de qualidade para os diferentes tipos de públicos. Tal compromisso com o Brasil deve ser cobrado e refletido pelas agências de marketing digital, que precisam conhecer melhor as ferramentas com que operam, para não cometer este tipo de gafe, bem como estudar para conhecer e selecionar os veículos de comunicação de melhor qualidade, fortalecendo suas atividades.

Infelizmente, temos visto caminhões de dinheiro público e privado financiarem canais de Fake News e supostos influenciadores digitais, o que reforça o enfraquecimento voraz de veículos de comunicação tradicionais e novos de importância e qualidade imensuráveis para a democracia e para a informar o público certo para cada tipo/foco de reportagem.

×
×

Carrinho