Salvador ganha monotrilho, solução chinesa para mobilidade urbana

Skyrail_Bahia

Monotrilho com tecnologia BYD modernizará transporte público na capital baiana

por Roberto Queiroz

Com extensão de 98 km e mais de 350 milhões de passageiros transportados por ano, o monotrilho da cidade chinesa de Chongqing mostra-se uma solução perfeitamente factível como meio de transporte de alta capacidade. Esse desempenho, sob condições bastante severas, “representou grande impulso para a adoção da tecnologia como BRT aéreo pela prefeitura de Salvador, BA”, na avaliação de Alexandre Liu, diretor de Negócios da BYD.

O modelo do sistema de Chongqing é adequado a Salvador por causa da topografia da cidade. A tecnologia faz os trens operarem abraçando o monotrilho e fazendo uso de pneus na linha central, o que destaca a habilidade da composição para subir trechos com inclinação de até 10%. Os trens podem atender a uma demanda de 32 mil passageiros hora/sentido. Os sistemas com roda convencional em aço ficam limitados a inclinações de 3%.

A implantação do monotrilho deverá começar já no segundo semestre. O consórcio Skyrail Bahia, composto pela BYD e pela Metrogreen, cuidará da construção de 18 estações, com ligação ao sistema de metrô da cidade. O sistema tem maior capacidade que um VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), alternativa também trabalhada pela empresa chinesa para oferta no Brasil. Depois de iniciada, a obra deverá ser concluída em 22 meses, beneficiando ao menos 200 mil pessoas da região suburbana da cidade, hoje com cerca de 3 milhões de habitantes.

O desenvolvimento do sistema chinês, único BRT elevado do planeta, custou US$ 800 milhões e quatro anos de trabalho. O Metrô de Chongqing, que atende pela sigla CRT (Chongqing Rail Transit), começou a operar em 2005. O sistema foi desenvolvido para operar em via elevada, para reduzir a circulação de pessoas ao nível das ruas, minimizando problemas da enorme densidade populacional. Desde 2016, outras 20 cidades chinesas já receberam sistemas com essa tecnologia, que adota propulsão elétrica por baterias.

Custo e expansão

O volume desse investimento provocou o início de ofertas fora da China, em busca de um payback, como em Salvador. A primeira opção da BYD havia sido São Paulo, mas uma série de conflitos nas linhas 17, 15 e 18, envolvendo problemas técnicos e até falência de um fornecedor, acabou deixando a situação em banho-maria e aproximando a empresa das autoridades baianas. A empresa pode voltar a se interessar pela capital paulista dependendo dos desdobramentos da situação.

A proposta original da prefeitura de Salvador envolvia a construção de um VLT para 80 mil passageiros/dia, em um trecho de 19 km, apenas na parte baixa da cidade, na faixa litorânea, e sem integração. Como explica Alexandre Liu, uma avaliação do edital abriu a oportunidade para uma composição mais complexa envolvendo as três fases. “Na segunda fase seria possível abrir uma conexão para o Metro”, explica.

Até para sua surpresa, o Governo da Bahia criou rapidamente um fundo garantidor e autorizou a troca da tecnologia a ser empregada no projeto, que passaria de VLT para monotrilho. “O Capex da fase 1 é de R$ 1,5 bilhão, uns R$ 300 milhões mais caro. O Capex da fase 2 está sendo montado”, informa o executivo.

A amortização desse custo suplementar será acelerada pela automação do sistema, que não utilizará motorista ou cobrador, como em um BRT com ônibus. E pela economia com o uso de baterias nos trens, ao invés de eletrificação externa das vias. “O custo de operação fica em 30% do que seria com ônibus”, informa Liu.

O trajeto de Simões Filho a Calçada, com a via elevada a 5,5 m do solo, vai reduzir de 90 para 35 minutos o tempo de traslado em relação ao projeto anterior. A fase 2 acrescentará mais quatro quilômetros e quatro estações à linha original, em subida e sem provocar baldeação. Os três primeiros quilômetros da obra devem estar operacionais ainda em 2020. A fase 2 do sistema já está em fase de negociação e, após as definições, vão tomar mais 25 meses de obras.

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