Prefeitura de São Paulo, vocês pensam? (ou Bode na Sala)

Pandemia no onibus

Editorial

Prefeitura de São Paulo, vocês pensam?

Gustavo Queiroz

Sim, estamos (MTED) fazendo uma pergunta séria. Mas, não estamos chamando ninguém de burro. Recentemente, a prefeitura paulistana decidiu bloquear a circulação de automóveis em algumas vias importantes para gerar incômodo nas pessoas e fazer com que os cidadãos permaneçam em casa, praticando o isolamento social.

Obviamente, incomodou. Mas, nem de longe atingiu o seu objetivo. Provocou muito trânsito nas vias alternativas e atrapalhou, por exemplo, deslocamento dos profissionais de saúde para os hospitais. É a história do “bode na sala”.

Agora, a Prefeitura de São Paulo impõe um rodízio burro aos automóveis, que consiste em regras ainda mais rígidas as praticadas atualmente. Agora, os veículos podem circular dia-sim, dia-não, de acordo com placas e dias de números pares ou ímpares. Mas, não se trata de uma medida de mobilidade urbana para incentivar a população adotar o transporte coletivo.

O que a administração municipal quer é fazer com que as pessoas deixem de circular pela cidade e fiquem em casa. Mas, se esquecem, que muitos profissionais de saúde utilizam os próprios carros para ir ao trabalho. Outros tantos profissionais, que não foram dispensados de suas atividades presenciais, também.

Dessa forma, quem não pode andar isoladamente em seu automóvel, mas que precisa ir –obrigatoriamente – ao trabalho, vai ser obrigado a utilizar transporte coletivo ou, na melhor das hipóteses, um serviço de aplicativo. Assim, a Prefeitura de São Paulo estimula (mesmo que sem intenção) a aglomeração de pessoas em ônibus, Metrô ou a proximidade física com motoristas de aplicativos.

Medida burra. Claramente, a Prefeitura de São Paulo não sabe o que fazer. Parece tentar medidas a esmo, talvez para aparentar a todos que está preocupada com a pandemia. Mas, contudo, não se pode chamar isso de “gestão de crise”. Gestão se faz com profissionais qualificados e responsáveis. Não há planejamento. Há tentativa e erro… e erro!

O que precisa ser feito, segundo todos os especialistas em epidemias, OMS e experiências exitosas no exterior, é o isolamento social obrigatório.

Aliás, gostaríamos de lembrar alguns colegas da imprensa que fazer jornalismo é diferente de atuar numa agência de publicidade, em que as pessoas ficam soltando palavras em inglês aleatoriamente. Jornalismo precisa se fazer ser compreendido. Portanto, não usem o termo estrangeiro “lockdown”. Isso confunde. Pesquisas apontam que apenas 5% da população brasileira falam inglês, sendo somente 3% de forma “fluente”.

Vamos falar em “tranca rua” ou qualquer expressão que demonstre a necessidade de permanecer em casa, saindo apenas quando realmente for necessário. Ficar dentro de casa pode ser chato e tedioso para muita gente. Mas, não se trata de cercear a liberdade de ninguém. Em casa, estamos mais seguros. Simples assim.

Aproveitamos, ainda, para pedir que não se estabeleçam debates imbecis com opiniões contra e a favor do isolamento. Opinião é achar que Rock é mais legal do que Samba, que feijão se coloca por cima do arroz, ou vice-versa. Agora, a hora é de orientar. Debater este assunto desta forma é como discutir se a Terra é redonda ou plana, em que se sabe a verdade e nenhuma opinião deveria desconsiderar evidências. É burrice e é mau-caratismo, ponto.

E, se, contudo, e apesar de tudo, você ainda se comporta de forma irresponsável, então você não presta. Vista a carapuça de burro e de mau-caráter e lave as suas mãos numa bacia de sangue. “Pro inferno!”

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Mesmo com o cadastro dos profissionais de saúde para que não sejam multados, ainda assim, não é uma boa medida. E no caso de alguém que precise ir ao hospital com urgência? Há muitas variáveis que devem ser consideradas.
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